Negroni: O Clássico “Bitter & Sweet” com uma História Temperada de Charme e Realeza

Dizem que os grandes clássicos nascem de improvisos. E assim foi com o Negroni, um dos drinks mais emblemáticos da coquetelaria mundial. Sua origem remonta a Florença, em 1919, quando o Conde Camillo Negroni pediu ao bartender do Caffè Casoni algo mais forte do que seu habitual Americano (feito com Campari, vermute doce e água com gás). Atendendo ao pedido com criatividade, o bartender Fosco Scarselli substituiu a água com gás por gin — e assim nasceu o Negroni.

Mas para entender por que o Americano era tão popular — e por que o Negroni surgiu naquele momento exato — é preciso mergulhar um pouco no cenário histórico da época.

1919: O mundo em transição

O ano de 1919 marcou o fim da Primeira Guerra Mundial. A Europa saía devastada do conflito, com sociedades ansiosas por reconstrução, alívio e... prazer. Era o início dos "Loucos Anos 20" (ou Roaring Twenties), um período de efervescência cultural, mudanças sociais e novos hábitos urbanos. O consumo de bebidas alcoólicas voltava a crescer — especialmente na Itália, onde a tradição do aperitivo ganhava ainda mais força.

Além disso, a influência americana na Europa estava em alta. Soldados dos EUA haviam circulado por todo o continente durante a guerra, e muitos hábitos culturais, incluindo bebidas e estilos de vida, foram absorvidos com curiosidade — e até certo fascínio. O coquetel Americano, que combinava o amargor sofisticado do Campari com a doçura do vermute e o frescor da água com gás, era um brinde à leveza em tempos de reconstrução. Apesar do nome, o drink era inteiramente italiano, mas batizado em homenagem aos turistas americanos que o adoravam.

Nesse clima de ressurgimento, otimismo contido e sede por novidades, o pedido ousado do Conde Negroni caiu como uma luva. O gin, típico das colônias britânicas, trouxe uma dose extra de força — e de exotismo — ao já consagrado Americano.

Negroni: Elegância com atitude

Com sua cor vermelho-rubi vibrante e o sabor equilibrado entre o doce do vermute, o amargor do Campari e a força botânica do gin, o Negroni é a personificação do refinamento com rebeldia.

E o que torna esse coquetel ainda mais fascinante são os fatos curiosos que o cercam:

  • 100 anos e contando: O Negroni celebrou seu centenário em 2019, e hoje é mais popular do que nunca.
  • Explosão de consumo: Segundo dados da Drinks International, o Negroni foi o segundo coquetel mais vendido do mundo em 2023, perdendo apenas para o velho e querido Old Fashioned.
  • Negroni Week: Criado pela Imbibe Magazine em parceria com a Campari, o evento anual arrecada fundos para instituições de caridade no mundo todo. Desde 2013, já foram levantados mais de US$ 3 milhões.
  • Variações sem fim: O Negroni deu origem a uma legião de descendentes criativos — como o Boulevardier (com bourbon no lugar do gin), o Negroni Sbagliato (com espumante em vez de gin), e até o White Negroni, que usa Lillet Blanc e Suze.
  • Simples e perfeito: Com apenas três ingredientes em partes iguais, o Negroni é um exemplo de equilíbrio e minimalismo — difícil de errar, mas fácil de impressionar.

E aqui vai um bônus: o próprio Conde Negroni, além de aristocrata, era cowboy no Velho Oeste americano, o que só aumenta a aura de charme excêntrico por trás da bebida.

E atenção, puristas: segundo a IBA – International Bartender Association, o único e verdadeiro Negroni deve ser preparado com o bitter Campari. Pode-se usar um excelente vermute doce e um bom London Dry Gin — mas o bitter não pode ser outro. Essa escolha não é apenas tradicional: é uma reverência ao DNA original do coquetel.

Hoje, seja em um bar speakeasy de Tóquio, uma trattoria em Roma ou um cigar lounge em São Paulo, pedir um Negroni é evocar uma herança de elegância e rebeldia embalada em um copo baixo com gelo e uma fatia de laranja.

Negroni — para os que entendem e sabem apreciar o amargor da vida com classe.